terça-feira, 20 de outubro de 2009

A propósito da pintura de Isabel Botelho


A propósito da pintura de Isabel Botelho Risoleta Pedro escreveu:

"O espaço é ocupado pelo espaço, o horizonte é sempre longe ou não existe. É uma pintura de silêncio e despojamento, um subtilíssimo toque de humor, às vezes. Sem o ruído dos risos, quase sem o movimento dos lábios, apenas um imperceptível, quase invisível brilho do sorriso. E luz. Muita luz. Natural ou dos candeeiros. Mas sempre.

Nuvens, mar, céu, pássaros. Comboios, aviões. Sinaléticas. Um ou outra casa. Longínqua. Pessoas lá dentro? Talvez. Não se vêem. Parece não importar muito. Se estão lá dentro, não existem, ou são invisíveis, silenciosas, imóveis. Esta é uma pintura de pessoas invisíveis, talvez transformadas em nuvens, talvez escondidas no mar. Mas isto já é especulação de quem escreve.

É, em dúvida, uma pintura boa para se entrar. Quando estiver insuportável aqui no meio da gente, quero entrar nesta pintura, que é uma espécie de refúgio. Ou de utopia. No sentido primordial, do não espaço. Pela quase exclusividade dele. O Universo novamente espacial, novamente limpo, novamente silencioso. Uma espécie de retorno a um Paraíso moderno. Sem maçãs. Logo, sem perigos, sem ameaças de expulsão. Mas… será possível entrar num sítio de onde não é possível sair? Ou, dito de outro modo: ser-se expulso será a única forma de se sair de um paraíso? Será possível sair de um paraíso sem ser necessário ser-se expulso?

António Botelho, a propósito desta pintura, fala de essência e vazio.

Eu falo do mesmo. Por outras palavras. Com mais palavras. Ele disse tudo com duas."

Gostaria de agradecer muito à professora Risoleta!