sábado, 25 de outubro de 2008

Não consegui deixar de o trancrever

(reposição de areia, Costa da Caparica)

António, Oh Novo e Tenro Ramo
Vós, Tenro e novo ramo florescente
De uma árvore de Cristo mais amada
Que nenhuma nascida no Ocidente,
Cesária ou Cristianíssima chamada;
Vede-o no vosso escudo, que presente
Na qual vos de por armas, e deixou
As que ELE para si na Cruz tomou.



Folheio as páginas longas e duradouras, "d’O livro". Continuo com frio, a tarde está gelada na esplanada do London Square, na praça.
Enquanto espero por Ela vou alternando o meu olhar. Tanto me preocupo com as folhas das árvores a cair, como me relembro d'Os Lusíadas. Preciso de encontrar um verso que me chame a atenção e que me cative o suficiente para poder escrever um texto que pelo menos aparente soar tão bem quanto soou o da “stora”.
Já farto de esperar por Ela, decidi fazer os trabalhos de casa de geometria. Mas não. Parecia impossível concentrar-me nos exercícios confusos e complexos de geometria. Linhas, rectas, planos, tudo menos aquilo em que me apetecia pensar.
Decidi então encarar o livro de português. Preciso de encontrar um verso que aparente semelhanças com o meu carácter.
Reflectindo, e fazendo a minha psicanálise encontro a arquitectura, a vida citadina, a praia o surf. Tudo gostos pessoais que em nada de assemelham com os gostos de Camões.
Já entranhando o meu ser, sou acordado por Ela. Sempre com aquele sorriso contagiador, que embora não quisesse, me fez também sorrir, mesmo estando ali ao frio à espera há mais de uma hora.
À espera de uma palavra que justificasse o seu atraso, sou surpreendido com uma pergunta:
- Então e a Sofia? Já sabem se é menino ou menina?
Uma sensação vinda de dentro de mim, como quem descobriu a cura para a Sida ou para algo importante, não respondo, apenas mostro um sorriso rasgado. Perguntou:
- Por que ris, Afonso? A tua irmã não ia fazer a ecografia hoje?
Como era possível que estivesse ali há quase uma hora a ver as folhas castanhas caírem e não me tivesse lembrado daquilo que mais alegria me dava no momento?!
Vou ser tio, e já falta pouco. Decidi então pegar novamente no meu livro. Folheando de trás para a frente, como quem procura um tesouro escondido, enquanto explicava a minha situação e preocupação do momento.
E lá estava um verso que em tudo se igualava àquilo que pretendia escrever. Ia falar de António. O primeiro de uma geração ainda a florescer. Já algumas folhas caíram desta árvore, mas felizmente existem outras que estão para nascer, um novo e tenro ramo.
Uma família, que tal como as árvores não perdem os seus veios, não esquece as suas profundas raízes.
Confesso que preferia ser homenageado com o facto de ter um sobrinho com o meu nome, mas António foi em tudo um dos pais desta árvore. Um membro possuidor de sabedoria, franqueza e simpatia. A mim apenas me resta esperar que um dia seja relembrado como um ramo forte e duradouro, que mesmo seco seja importante para que nada caia.
Por vezes penso e comparo a minha família à “família” d’Os Lusíadas. Todos os heróis, todas as marés, todas as viagens se igualam à minha árvore. Será a minha família uma família tipicamente lusitana? Sei que não. Sei pois que pertenço a uma árvore que em tempos fora enxertada. Junção de uma araucária, de um jacarandá, resultou num esbelto e grande sobreiro.
Um ramo florescente está a caminho, um novo ser, que ao nascer, mesmo antes de falar, chamará tanto à atenção de toda esta família, como uma luz verde florescente chama numa discoteca escura e frígida. Uns dizem que terá jeito para futebol, outros rezam para que seja apenas saudável. Eu, mesmo sabendo que ainda faltam uns anos até que isso possa ser possível, acredito que irá ser surfista, e que um dia irá percorrer todo o percurso nacional de surf, é claro, sem nunca desiludir o tio. Actualmente sei que irá ser um novo ramo, de uma árvore tão amada.
Não me considero membro da melhor família do ocidente, nem apenas mais uma. Considero-me membro de uma excelente família, que por mares nunca dantes navegados passaram para além da felicidade.
Um brasão seguro por um dragão, vejo cada vez que encaro a sala da minha avó. Será o dragão representativo da nossa força? Ou será apenas símbolo do Porto? Terra da qual nasceram alguns troncos desta árvore…
Todos aguardamos no Porto, quase que desesperadamente (diria eu ao ver a postura de alguns), a chegada das novas naus, que cheias de novas alegrias guardadas nos porões, não reconhecem a importância que lhes concebemos. Apenas lhes peço que prossigam com a cruz, e com todas as armas mantenham esta árvore grandiosa e famosa de todas as suas vitórias.
Rezo então a Cristo que este seja apenas só o início de uma grandiosa Primavera que muito terá para florescer.

Afonso Botelho Santos, 12º A

Confesso que não resisti em colocar este texto, também ele escrito por mim, no blogue sobre a água. Admito que em pouco se relaciona com este elemento terrestre, mas por que não beber um pouco de outras temáticas?
Escrevi este texto no âmbito da disciplina de português, baseando-me no primeiro verso da estrofe em cima transcrita, d'Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões. O que se propunha era a realização de uma crónica em que, tal como já referi, me baseio num verso da mais famosa epopeia portuguesa, sendo que alargo isso a outra temática. Falo da minha família que tanto me orgulho de beber da sua diferenciação.
Obrigado, pelo apoio tanto da familia como dos amigos.

3 comentários:

Anónimo disse...

ternura, orgulho, compreensão e felicidade, muita, pela árvore ter deixado tantas raízes, capazes de, em cada ramo, nos surpreender com a continuidade da sua cor, do seu cheiro, da sua textura.

Obrigado Afonso
(de um ramo já meio seco mas que renasce em cada Primavera graças aos restantes que florescem)
Titó

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Blogger risocordetejo disse...

Como sabes, gostei deste teu texto, e compreendo que quisesses "republicá-lo" aqui. De qualquer modo, recomendo-te que futuramente te restrinjas mais ao tema, dado que é um blogue temático convém não criares "ruídos", por muita qualidade que tenham (podes sempre criar um blogue à parte para outros textos que não tenham aqui cabimento), até para te facilitar o trabalho final de síntese.

CORRECÇÕES:

"[...] mas POR QUE não beber um pouco de outras temáticas?
Escrevi este texto no âmbito da disciplina de português, baseando-me no primeiro verso da estrofe em cima transcrita, d'Os Lusíadas, ITÁLICO de Luís Vás de Camões.[...]"