domingo, 16 de novembro de 2008

Reflexão

(preto no branco, Sara Faro)

22

"Mas depois que de todo se fartou,
O pó que tem no mar a si recolhe,
E pelo céu chovendo enfim voou,
Por que co a água a jacente água molhe:
Às ondas torna as ondas que tomou,
Mas o sabor do sal lhe tira e tolhe.
Vejam agora os sábios na escritura,
Que segredos são estes de Natura.

23

"Se os antigos filósofos, que andaram
Tantas terras, por ver segredos delas,
As maravilhas que eu passei, passaram,
A tão diversos ventos dando as velas,
Que grandes escrituras que deixaram!
Que influição de signos e de estrelas!
Que estranhezas, que grandes qualidades!
E tudo sem mentir, puras verdades.
(Camões, Luís. Os Lusíadas, Canto V: Fogo de Santelmo e Tromba Marítima)


Foi um blogue curto. Pelo menos mais curto do que pretendia inicialmente. Dou este “Post” como último, e finalizador do blogue, visto que o trabalho está no âmbito de uma disciplina escolar, possui um início e um fim. Esse fim aproxima-se e tenho que fazer uma pequena (coisa que acabo sempre por não cumprir) reflexão sobre este meu trabalho.

Ao longo de todo este trabalho procurei escrever e relacionar diversos textos d’Os Lusíadas (e outros) com este elemento tão simples e ao mesmo tempo tão essencial para a nossa existência.

Iniciei o trabalho com uma pesquisa sobre os símbolos que podemos conectar com a água. Com as ondas ondeando fui prosseguindo os meus textos, que insistentemente acompanhei com fotografias, pois não seria eu um aluno de artes se não considerasse a imagem um elemento importante.

Já o afirmava, mas agora, após pensar um pouco, concluo que metade da minha alma é feita de maresia, e que sem ela nunca conseguiria viver. Viver no verdadeiro sentido da palavra. Não limitar-me a respirar e passear pelo meio deste enorme conjunto de prédios que esconde o verde dos montes e o azul do mar.

Voltei a ler o meu texto sobre o mostrengo. Peço desculpa se de alguma forma ofendi alguém. Julgo apenas ter mostrado a minha perspectiva. Contudo queria reforçar a minha ideia de pedir desculpa, pois mostrengos somos todos nós, quando observados pelo desconhecido.

Sintra foi um encanto. Sintra é, e sempre será um encanto. Com todas as suas características. Mesmo com a sua humidade que uns repelem mas que tanto me atrai.

Um blogue que é um pouco de nada, que pode vir a ser tudo. Para mim escrever este blogue e iniciar-me realmente no mundo da literatura foi importante. Uns quantos gatafunhos de palavras que me fizeram pensar e assim mostrar o meu lado aquático, que nem eu conhecia. Julgo mesmo não o conhecer verdadeiramente, e é por essa mesma razão que considero que estes textos são nada, que dão início a um todo.

Guardo assim no meu búzio, a ideia de vir a prosseguir com os meus textos e as minhas pequenas reflexões.

Peço que continuem a existir aqueles que são considerados velhos do Restelo, para que os novos prossigam e reforcem as suas ideias progressistas.

Já Camões dizia: “Que grandes escrituras que deixaram”, todos aqueles que sobre água escreveram. Eu fui mais um. Mais um que se limitou a falar da sua água. Não me comparo a nenhum daqueles grandes que sobre a água reflectiram, mas sim um ser humano que dá inicio à sua existência.

Muito ainda ficou por escrever, mas eu tornarei às ondas que tomei, tal como Camões: “Às ondas torna as ondas que tomou,”

Acho que a mim me resta apenas agradecer.

5 comentários:

Affonso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Madalena disse...

Adorei a tua reflexão. Acho que está muito boa :)
Madalena

Anónimo disse...

Afonso, vai mesmo acabar?
Segui "de longe" este seu trabalho e não posso deixar de lhe pedir que reconsidere! porque tem muita qualidade!

Anónimo disse...

Olá Afonso,
Os teus textos superaram tudo o que esperava.
Parabéns sinceros.
Parece-me que talvez tenhas descoberto em ti (como eu também descobri) novos horizontes de expressão.
Porque o resto, sensibilidade e bom gosto, eu já conhecia e tu também sabias.
Não de digo que continues ou não. Mas agora que descobriste um mundo novo, é um desperdício não continuares. Eu sei que tens muito trabalho, mas...
Parabéns mesmo.
O Gato Que Ri

Anónimo disse...

CORRECÇÃO:

QUE UNS REPELEM



COMENTÁRIO:
Afonso:
Gostei do teu percurso e da tua finalização. Percebi o teu empenho e como este trabalho ultrapassou o âmbito meramente escolar. É por saber que "acontecimentos"assim podem ocorrer que insisto em fazer este tipo de propostas de estudo que ao princípio vos surpreendem ou chocam, mas que têm o mérito de vos fazer surpreender a vós mesmos.
Este blogue não tem de terminar aqui, visto que a ideia é continuarem com o mesmo tema relativamente ao estudo das obras dos períodos seguintes. Fica ao teu critério, mas seja qual for a forma de apresentação por que optes, recomendo-te que comeces logo no princípio do período com a análise, olhar atento, recolha de dados, textos, registos vários e os elementos que forem fazendo sentido. Era o que eu gostaria que tivesse acontecido: que tivesses iniciado mais cedo, tal como fui recomendando desde o início. Estou optimista que tal venha a acontecer futuramene. A ideia deste trabalho é precisamente a de um caminho. No teu caso, pelos percursos da água.
Risoleta