segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Reposição de Areia nas praias da Costa da Caparica

(praia do CDS, Costa da Caparica)

“O reforço do cordão dunar nas praias do Norte, na Costa de Caparica, vai decorrer ininterruptamente durante pelo menos mais dois meses, adiantou o presidente do Instituto da Água (Inag), Orlando Borges.

Esta é uma medida de emergência para evitar que o mar galgue as dunas e atinja o parque de campismo do Inatel e os vários apoios de praia daquela zona (…)”

- Oh não, mais uma vez não. Por amor de Deus, mais uma vez não.

Foi uma reacção deste género que tive após ler um início de um artigo semelhante a este. Em tempos, já tinha acontecido, também na costa da Caparica, uma acção de protecção das praias e dos seus apoios. Contudo eu, ao contrário de muitos daqueles que possuem a “glória de mandar”, considero-me opositor de medidas deste género. Medidas que remedeiam determinas acções “mal amadas”.
Há quem considere a minha posição egoísta e conservadora e até, quem sabe, semelhante ao velho do Restelo. Posso considerar-me egoísta e até que posso estar a tomar uma posição que vai contra muita gente e muitos interesses públicos, contudo acho que devo defender a minha opinião tal como todos aqueles que defendem a reposição de areia nas praias, meneando três vezes a cabeça.

Em 2007, precisamente no fim do verão, tive o prazer de desfrutar de um Setembro com umas óptimas praias cobertas de areia até aos pontões (não será um exagerado perguntei eu??). Pois rapidamente me apercebi que não. Aqueles enormes montes de areia que me dificultam a “entrada” no mar (devido ao facto de se formar um gigante degrau de areia após as primeiras ondas) rapidamente sumiram, devido à “vã cobiça” de todas aqueles que têm a “glória de mandar”! Será que não seria mais inteligente da parte de todos aqueles engenheiros e políticos que adoram a costa com areia até acima, se estes proibissem determinadas construções e obras junto da praia? Mas não, preferem continuar a construir, e a contruir junto das praias, porque isso dá bastante lucro, em vez de limitarem o espaço envolvente das praias a espaços publicos e com poucas construções. Bem sei que nem todos têm capacidades económicas, e que por essas razões são obrigados a habitar em casas de panos, com estacas e prumos, contudo, no meu (ingénuo e ignorante, só de experiências feito) saber, esses enormes e apinhados parques de campismo poderiam deslocar-se para longe das zonas consideradas de perigo durante as marés vivas, não?

Tudo perguntas às quais nunca vou obter uma resposta…

Apenas gostava de saber se eu, como praticante de uma modalidade que envolve sobretudo o mar, poderei desfrutar da água, como me é merecido. Já não falando de todos aqueles senhores com umas botas de cano alto e com uns tractores que andam a chatear-me pelas praias durante o único dia, durante a semana que me encontro na costa.
E que por devido àquele excesso de areia que é colocado, e que por “fraudulento gosto” transforma as maravilhosas ondas em coisas insurfáveis. “Que crueldades neles(as) experimentas”. Que crueldade se faz às ondas. Porquê alterar o que é natural e manter o que é artificial? Porquê transformar as praias em nossa propriedade? Não seria melhor se nos corrigíssemos a nós em vez de corrigirmos constantemente o MAR??

“Que castigo tamanho e que justiça” que é feita. Adorava poder desfrutar das ondas, da frescura do mar, do sal da água, que me banha o corpo após toda aquela desastrosa semana e que, milagrosamente, me transforma num ser humano tão feliz que me sinto preparado para voltar á capital.

Meneio três vezes a cabeça, e menearei todas as vezes que voltarem a considerar a reposição de areias na costa da Caparica a solução. Tal como já disse anteriormente não me sinto capaz, “C'um saber só de experiências feito”, de encontrar a solução viável, contudo acho que devo manifestar, tal como o velho do Restelo o fez. Não sei se será esta uma novidade à qual, tal como o velho, me oponho…. Ficarei á espera de uma resposta.

94
"Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:

95
- "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!

Pequenos desabafos que tento transmitir recorrendo a'Os Lusíadas

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei da criativa adaptação que fizeste a uma nova situação, do discurso do Velho do Restelo.
CORRECÇÕES:
[…]
que adoram a costa com areia até ACIMA, […]
Já não falando de todos aqueles senhores com umas botas de cano alto e com uns tractores QUE andam a chatear-me pelas praias durante o único dia, durante a semana EM que me encontro na costa.[…]
E que por RETIRAR devido àquele excesso de areia que é colocado[…]
recorrendo a'Os Lusíadas ITÁLICO”