quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Ah, um Soneto...


(a água que passa, Affonso)


Ah, um Soneto...

Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear ...

No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.

Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.

Mas — esta é boa! — era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação? ...


Álvaro de Campos
Ah! Mais um soneto. Um soneto para se ler. Um soneto para pensar. Um soneto para escrever e um soneto para publicar.


Publicado a 29 de Janeiro

2 comentários:

Anónimo disse...

O teu blogue continua no bom caminho, Afonso. Boa ligação entre os aspectos solicitados: conteúdo do programa actualmente em estudo, vida e elemento (no teu caso "água"), não esquecendo a importância de texto pessoal.
As fotos enriquecem-no, embora não sejam a minha área de avaliação, digamos que é um comentário em aparte, tenho no entanto em conta a relação imagem/texto, e isso está a funcionar bem.
Relativamente aos textos sais-te muito bem quando fazes o que o F Pessoa refere em: "é como que um terraço sobre outra coisa ainda/essa coisa é que é linda". Isto é, o texto pessoal, o desabafo, a expressão de estados, sentimentos ou emoções não faz a arte, o que a faz é o resultado obtido por o tal processo de transfiguração (sentir na imaginação). É o caso do texto em que referes vários espaços de Lisboa de um modo muito interessante.
Fico então a aguardar o teu relatório desta etapa. Podes enviar-mo ou publicá-lo aqui ou ambas as coisas, como quiseres.
Continuação de bom traballho.
Risoleta

Anónimo disse...

Sugestão (ou desafio):
sabemos como o Afonso se relaciona com a água. Mas... e Reis? E Caeiro? E Campos? Como concilia(m) ele(s)isso? Que diriam de Afonso, se o conhecessem?
Se te fizer sentido...
R