domingo, 10 de maio de 2009

Narrador

(Guernica de Pablo Picasso, 1937)
Tal como alguns já fizeram, antes de uma discussão ou até uma reflexão é necessário que estejamos dentro do assunto. Quanto à pergunta “será que tal como acontece na pintura, na literatura será necessário a existência de um narrador separado do autor?” julgo que é necessário esclarecer diversos conceitos.

De narrador entendo “que ou aquele que narra” e de narrar devo entender, segundo o dicionário de língua portuguesa que mais rápido encontrei na estante, de “expor as particularidades de (um facto); referir; relatar; descrever; contar; historiar.”

De autor, e segundo o mesmo dicionário, deve-se entender de “(…) criador; aquele a quem se deve uma obra literária, cientifica ou artística (…)”

Finalmente pintura é “arte de pintar; obra executada por pintor; cor aplicada a um objectivo; quadro; descrição minuciosa; representação. (…)”

Segundo li numa dessas aulas de português que tenho todas as semanas, fiquei a saber que Saramago, o autor de Memorial do Convento, o narrador não existe. Este afirma que tal como acontece nas pinturas, como Guernica de Picasso, não existe um intruso (o narrador) entre o autor e o público que a admira.

A minha opinião, que nem sempre é pertinente, é que não podemos referir a arte como algo concreto e único. Não existe apenas uma corrente artística, não existe apenas um género de pintor/autor e não existe apenas uma obra no mundo. Por isso julgo que é errado comparar a literatura às artes plástica. Como podemos afirmar que na pintura não existe narrador quando olhamos para as pinturas rupestres e encontramos assumidamente uma história de uma caçada? Até mesmo no caso que Saramago nos dá como exemplo (a Guernica de Pablo Picasso) eu encontro um narrador! O que não encontro é um narrador distante do autor. Julgo que estes quase sempre se “avistam” em paralelo.

O que, na minha opinião, faltava na afirmação de Saramago (sem que de forma alguma esteja a corrigir, mas sim a completar, uma afirmação do tão prestigiado autor português) é que é o autor que escolhe se na sua obra (seja esta literária, artística ou cientifica) existe ou não um narrador diferenciado de si mesmo.

Julgo que existe uma quantidade astronómica de livros publicados pelo mundo foram a ocupar estantes e estantes de diferentes bibliotecas. Assim sendo existe também uma grande quantidade e variedade de autores. Logo, na minha opinião, devem ser os autores a escolher o papel fundamental ou não do narrador na sua obra. Se Saramago não se diferencia do narrador das suas obras então nada nem ninguém o deve criticar, tal como deveria acontecer àqueles que se distanciam das suas obras.

Curiosidades:
Sobre Guernica Picasso afirma:
“No, la pintura no está hecha para decorar las Habitaciones. Es un instrumento de guerra ofensivo y defensivo contra el enemigo.”

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente reflexão. Fico contente porque é mesmo isso que as aulas devem desencadear: reflexão em acção.
Quanto ao blogue: progressos! (Não digo "grandes", porque sempre teve qualidade, mas corrigiste o que era necessário, adequaste-o ao que se pretendia.
As fotografia continuma a ilustrar de forma inteligente a criativa o conteúdo dos textos.
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